terça-feira, 10 de março de 2009

A CRISE E O BRASIL – PARADIGMAS PARA AVANÇAR CONTRA A MARÉ

A CRISE E O BRASIL – PARADIGMAS PARA AVANÇAR CONTRA A MARÉ

A crise mundial está aí, e os analistas, que antes tinham três tipos de visões: otimistas, regulares e pessimistas; hoje possuem apenas uma: a visão pessimista.

Estamos ainda no começo da crise que assola a economia mundial. Os países desenvolvidos sentem um impacto maior do que os países em desenvolvimento, pois a crise surgiu nos países centrais, e os emergentes também sofrem, incluindo o Brasil.

Os países em desenvolvimento estão sentindo uma forte contração do crédito e do capital estrangeiro, diminuição das exportações e por conseqüência o preço baixo na venda commodities¹. O desemprego começa a aumentar. A cada 1% de aumento na taxa de desemprego nos países em desenvolvimento representa 20 milhões de pessoas desempregadas². Mas quais são as vantagens comparativas do Brasil?

Primeiramente podemos citar o fato de que o Brasil reduziu a vulnerabilidade externa. Atualmente conta com grandes reservas internacionais, sendo hoje credor internacional³. A Rússia, país que está sofrendo muito com a crise, também possui grandes reservas internacionais, porém o endividamento privado supera as reservas, o que não acontece no caso brasileiro. Temos também uma boa faixa de manobra para que o Banco Central diminua a taxa de juros⁴.

A diplomacia comercial brasileira pautou-se na diminuição do peso do comércio bilateral com os Estados Unidos criando uma maior abrangência de parceiros comerciais, principalmente nas relações com países em desenvolvimento .

A crise dos Estados Unidos foi importante para que o Brasil não tivesse sua própria crise do subprime. Ainda temos um grande terreno de crescimento no setor imobiliário, que representa apenas 3% do PIB nacional⁵ e o governo acaba de lançar um projeto para a construção de 1 milhão de casas populares.

O país construiu nestes últimos anos um grande mercado de massas, crescendo 14% ao ano, sendo que no último trimestre cresceu 10%. Mais de 20 milhões de pessoas ingressaram na classe média, que possui hoje 52% da população, além de 41 milhões de brasileiros que cruzaram a linha de pobreza. Isso se deve graças às medidas sociais adotadas pelo atual governo que visam à redistribuição da riqueza, como por exemplo, o Bolsa Família⁶. Talvez o Brasil possua a maior rede de proteção social do mundo emergente⁷.

Em outras crises a política econômica brasileira se agravava: os juros subiam por conta da alta inflação, a dívida pública aumentava e cortavam-se investimentos. Com a solidez macroeconômica que o Brasil alcançou, pode-se adotar medidas contra-cíclicas, como a ampliação do investimento público e o afrouxamento da política monetária. O país possui a vantagem de já existir um grande projeto nacional para setores estratégicos, o PAC, que outros países estão apenas começando a utilizar para combater a crise.

O mundo está caminhando para uma regulamentação financeira que já existe no Brasil. Na verdade, o que acontece é que sempre fomos criticados por termos uma política monetária conservadora, porém é exatamente por causa dela que sofreremos menos com a crise⁸. Um maior controle do Estado no Sistema Financeiro e a existência de bancos públicos (Banco do Brasil, BNDES) fazem com que o Brasil tenha maiores opções de manobra.

Porém, o Governo ainda necessita ser mais rigoroso com as empresas. A Embraer demitiu 4200 funcionários sem nem ao menos passar por um processo de discussão com os funcionários. Ao ajudar financeiramente as empresas, o BNDES deve também exigir contrapartidas, como a manutenção dos empregos, coisa que não ocorreu neste caso.

Temos a máxima de que excesso de liquidez, especulação, crash, contrição: essas quatro estações dão ritmo à história das finanças desde o século XVIII⁹.

Enfim, o Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise, provavelmente será um dos primeiros a sair dela. Toda crise gera oportunidades e cabe aos governantes fazer com que o país saia mais forte dela.

RAFAEL DA FONSECA REIS PEREIRA – comunicólogo e pós-graduando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília.

¹ - As importações chinesas tem caído cerca de 12% no último trimestre.
² - Fonte: OIT.
³ - em 2003 o país tinha uma dívida externa líquida de 165 bilhões de dólares. Hoje possui reservas em torno de 200 bilhões
⁴ - Henrique Meirelles posicionou-se favorável no Seminário Internacional sobre Desenvolvimento (5 e 6 de março) para que na próxima reunião os juros possam abaixar.
⁵ - enquanto que em países como Espanha o setor representa 30% e nos Estados Unidos 60%.
⁶ - O Bolsa família ajuda cerca de 11 milhões de beneficiários. Ibase, 2008
⁷ - Além do Bolsa Família, o Brasil conta com 7 milhões de seguros-desemprego, 25 milhões de aposentados.
⁸ - The Economist. Brazil’s economy, reaping the rewards indolence. 5 de março de 2009
⁹ - Charles Kindlerberger, Histoire mondiale de La speculation financière, 2004.

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